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POR:Júlio Cesar Meira.

Há mais de cinco décadas, o banqueiro e político José Magalhães Pinto afirmou que a “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. A frase de Magalhães Pinto certamente se referia à impossibilidade de construção de cenários previsíveis da política, mas, também, abordava o caráter negociador e do exercício do dissenso – necessários para a obtenção de consensos possíveis – no meio político, em que opiniões fortes e imutáveis, bom como posições inarredáveis não tem lugar.

Infelizmente o diagnóstico lúcido da velha raposa política se tornou, nos últimos anos, matriz para todos os que, de um jeito ou de outro, tentam deslegitimar o exercício da política na sociedade, o que, temos de reconhecer, tem sido feito com notável ajuda de muitos dos próprios políticos, que passaram a operar numa zona cinzenta na Nova República, evidenciando os problemas da forma como a Constituição de 1988 estabeleceu as relações entre poderes.

Esse estado de coisas acabou por estimular o discurso – relativamente bem-sucedido nas últimas eleições mundo afora – da busca de soluções fora da política tradicional ou, pelo menos, um novo jeito de fazer política, por aqui genericamente chamada de “Nova Política”. Outsiders os mais variados, bem como representantes de estamentos da sociedade conhecidos por suas visões extremadas em diversos temas, foram eleitos, assim como velhos políticos que perceberam as mudanças de percepção (Magalhães Pinto, de novo!) e recalibraram o discurso e/ou o figurino para se apresentar como legítimos representantes da “Nova Política”.

A chegada desses novos representantes da vontade popular, legitimados por um dos maiores símbolos da democracia liberal – o voto popular – foi saudado como o enterro definitivo da Velha Política, estabelecendo novas práticas, trazendo novas (e nem tanto) demandas e empoderando grupos com discursos extremistas e disruptivos que não eram levados a sério no espaço público e político das últimas décadas. Mas quais os resultados práticos disso? É o que nos propomos a analisar nas próximas colunas.
*Foto: José Magalhães Pinto.

Júlio Cesar Meira é Doutor em História Social, professor do curso de História da UEG Morrinhos, do Mestrado em História da UEG e do Mestrado em Ambiente e Sociedade da UEG. Autor do livro Reformulação Urbana no Brasil do Século XX: Análise dos Discursos de Progresso e Modernização em um Município do Sul de Goiás (1950-1970). Contato: juliohistoriador@gmail.com.

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