A vida é uma caixa de surpresas. Atualmente, começo a entender e separar a vida do ato de viver. Viver, tudo no mundo vive, assim como tudo que é vivo, morre. A vida já é outro poente, significamente quente e vibrante. A vida mescla a beleza e o horror, tingindo de cores vivas e vibrantes, quem a entende. Introjeta apreciar um entardecer. O filósofo Albert Camus, por exemplo, explorou essa dualidade em sua obra “O Mito de Sísifo”, argumentando que encontrar significado na vida é um desafio constante, dada à aparente indiferença do universo. Mas, o que é viver bem, de acordo com a vida? Coloquei-me a refletir em como vivemos, isto é, a maioria das pessoas vivem através de fantasias, porém não é isso que querem. A fantasia é um grande problema, pois ela é um “vírus” que penetra quando o seu sonho não é realizado, assim que falta força e foco para alcançar aquele objetivo.
Consigo observar quantas vezes fiquei perdido em fantasias por causa de meus sonhos. A fantasia me bastava, já o sonho, meu inimigo interior dizia ser impossível. Refletindo o mundo das ideias de Platão, é possível entender que, tudo que sonhamos, já existe e o que necessita é a simples materialização no nosso plano terreno. Um exemplo notável é o sonho de voar que, no início da história da aviação, parecia uma fantasia inalcançável. No entanto, a busca contínua pela materialização desse sonho levou à invenção do avião por Santos Dumont.
Os sonhos são motores da ação humana, motivando-nos a alcançar o inalcançável. Vivendo aquele sonho, imaginando atitudes e realizações assim que conseguir aquele objetivo. Nesse ponto que a fantasia penetra fazendo o ser humano viver em rodeios. Muitas vezes, nossos sonhos são difíceis de alcançar, é necessário muito esforço e abdicações doloridas; no final, são poucas as pessoas que possuem garra suficiente para dilacerar cada leão à frente. Os que não lutam, vivem nas fantasias. Certamente, ainda existem aquelas pessoas que apenas viver na fantasia, basta.
O mal do nosso século são as fantasias. O mundo não é fantasia, muito menos o que queremos das outras pessoas. Já cansamos de ler nas redes sociais que o meio deve se moldar para agradar uma única pessoa, e isso vai muito além, quando tal ato é expresso como se fosse uma bandeira de progresso. A verdade é cruel para quem vive nesses mundos fantásticos e, para quem visualiza como funciona a real dinâmica humana, é suave como bebericar um bom café.
O maior mal do nosso século se chama depressão. Existem inúmeras causas, sejas elas biológicas e mentais. Um dos problemas é a fantasia excessiva. Passar boa parte do dia no mundo fantástico criado pela própria mente, negligenciando responsabilidades, gerando impactos nos diversos relacionamentos. As redes sociais, tornaram-se um espelho da fantasia moderna. Forço uma comparação ao colisor de hádrons, acelerando futilidade, aparência, realidade inexiste, fantasias e, o principal, no choque de todos esses elementos; ideias são introduzidas na sua mente, a síntese de tudo isso: incompatibilidade com a realidade. O mundo real é duro, cruel, difícil e só os preparados sobrevivem. Poderia ir além, e dizer, a sobrevivência do mais apto. A depressão é algo que suga, é o último estágio da fantasia. Pois, nesse nível a fantasia se torna em não existir.
Um exemplo notável é a característica “FOMO” (Fear of Missing Out), que ilustra como a necessidade de validação e comparação nas redes sociais pode afetar as qualidades do bem-estar das pessoas. As redes sociais podem ser representadas por um funil e sua mente está na ponta inferior, recebendo tudo sem nenhum mecanismo de defesa. Está absorvendo ideias que não são suas, desejos que nunca se teve e vontades que nunca se quis. A vida fácil é estampada como um direito, sabemos que não é bem assim.
O uso de maneira prolongada das redes sociais causa diversos problemas como a dependência desse recurso, no qual as pessoas têm dificuldade em se desconectar e, consequentemente, não dedicam tempo às atividades realmente importantes, o que gera problemas de saúde mental. O isolamento social é outro elemento que esse uso exacerbado causa, uma vez que as interações online são mais simples e podem substituir as interações pessoais. Esse isolamento e o horror ao social, é um fator de risco para a depressão. Caminhando, por fim, a cultura da aparência, comparação constante e o principal, a busca por validação. Usuários buscam instintivamente curtidas, comentários e compartilhamentos para medir seu valor, autoestima e aceitação. Quando não é atingida a expectativa, isso gera sentimentos de tristeza e baixa autoestima, é quando o cyberbullying e assédio entram em cena. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, evidenciando o impacto da desconexão com a realidade na saúde mental.
O mundo paralelo que as redes representam é muito semelhante ao real. O único problema é que as pessoas entram nesse universo sem entender os perigos potenciais. A Academia Americana de Pediatria alerta sobre os efeitos negativos das redes sociais na saúde mental das crianças, enfatizando a importância de limitar o tempo de tela. Vê-se constantemente os pais entregando celulares nas mãos das crianças que muitas vezes nem aprenderam a falar direito. Mergulham naquele mundo sem os mecanismos de defesa e saem absorvendo tudo sem entender nada. Tenho medo e pena do mundo que estamos criando para essa geração. Pessoas fracas, depressivas e violentas.
Em nossa jornada existencial, confrontamos a dualidade entre existência e vida, onde a verdadeira arte de viver transcende a mera biologia. Nesse contexto, nossos sonhos servem como motores de ação, alimentando nossa busca por significado e realização. Inspirados pela filosofia de Platão, buscamos materializar sonhos no mundo tangível. No entanto, a fantasia muitas vezes obscurece a nossa visão, desafiando a realização dos nossos objetivos. Alcançar nossos sonhos exige coragem, determinação e sacrifício, e muitos preferem refugiar-se na fantasia em vez de enfrentar a realidade.
As redes sociais, um espelho da fantasia moderna, perpetuam a ilusão de vidas perfeitas, afetando nossa saúde mental. A depressão, uma epidemia global, muitas vezes é uma consequência da desconexão com a realidade. As crianças, introduzidas precocemente nas redes sociais, correm o risco de se tornarem vulneráveis ao isolamento e aos problemas emocionais.
A verdadeira filosofia da vida está em encontrar um equilíbrio delicado entre nossos sonhos e a realidade. Só assim podemos abraçar os desafios do mundo real e perseguir nossos sonhos com os pés firmemente plantados no chão. A vida é uma jornada repleta de dualidades e contradições, onde a coragem de enfrentar a realidade e a busca pela verdadeira significância e felicidade são os elementos essenciais para uma vida autêntica e significativa.
Autor: Kleber Inácio da Silva