Pela qualidade que as uvas de mesa produzidas no Cerrado vem apresentando, parece que o cultivo dessa fruta na região veio mesmo para ficar. “Temos recebido muitos elogios e isso é motivo de muita satisfação para a gente”, conta Jefferson dos Reis, gerente de produção da fazenda Monte Branco, localizada no município de Padre Bernardo (GO). A propriedade é referência na região no cultivo de uva de mesa e no pico da última safra produziu cerca de 17 toneladas da fruta por hectare. Atualmente, os parreirais ocupam 20 hectares da propriedade, mas a previsão é que nos próximos anos duplique de tamanho.
A variedade mais plantada na fazenda é a BRS Vitória desenvolvida pela Embrapa. A propriedade é da nutricionista Adriana Fernandes. Há quatro anos, ela decidiu investir no cultivo de frutas na região. “Percebemos que a maior parte das frutas vinha de fora. Hoje colhemos uvas num dia e no outro o produto já está na atacadista. Chega fresco ao consumidor, o que é muito bom”. O desafio, segundo ela, está relacionado à mão-de-obra. “Trata-se de um fruto delicado, que necessita de cuidados tanto na poda quanto na colheita. A falta de pessoal capacitado para trabalhar é de fato um gargalo”, avalia.
A fazenda Monte Branco recebeu no último dia 30 um grupo formado por extensionistas da Emater-DF e pesquisadores da Embrapa para uma visita técnica realizada dentro da programação do curso de capacitação em fruticultura tropical que está sendo promovido pela Embrapa Cerrados, Emater DF e Superintendência Federal de Agricultura do DF (MAPA) e conta com a parceria da Emater-GO, Emater-MG, Senar e da Rota da Fruticultura – Ride DF.
O evento inclui palestras palestras técnicas on line e visitas em propriedades de referência, onde existem experiências de sucesso no cultivo das várias frutas que serão contempladas na capacitação. No dia 27 de julho, o tema da palestra foi “Uva de mesa: cultivares, sistemas de produção e mercado”, com o pesquisador João Dimas Maia, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS), que também participou da visita técnica.
O pesquisador João Dimas compartilhou com os participantes da visita técnica sua grande experiência com o cultivo da uva em ambientes tropicais. Falou sobre as principais cultivares, práticas culturais e sobre o grande potencial de crescimento de mercado da uva de mesa na região do Cerrado.
O cultivo de uva na região do Cerrado tem aumentado de forma significativa, especialmente na região do Distrito Federal e Entorno. De acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro, para atender a essas demandas de forma mais rápida e dinâmica, foram firmadas parcerias com diversas unidades da Embrapa, como a Embrapa Uva de Vinho, e com empresas de assistência técnica. Além da Emater-DF também são parceiros a Emater-GO e Emater-MG. “Por meio dessas parcerias vamos conseguir potencializar o cultivo da uva no Cerrrado”, acredita.
“Essa é mais uma alternativa que a Embrapa disponibiliza não só para os produtores irrigantes, mas também para os consumidores que poderão ter em casa um produto cada vez mais fresco e de qualidade”, afirma o pesquisador Renato Amabile, assessor e substituto da Chefia de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados.
“Existe uma demanda muito grande por informação sobre esse assunto e essa troca de experiência é fundamental para que o cultivo seja de fato exitoso”, pontuou a pesquisadora Maria Emília, chefe adjunta substituta de Pesquisa e Desenvolvimento. Os dois pesquisadores participaram da visita representando a Chefia da Embrapa Cerrados.
De acordo com o pesquisador Nilton Junqueira, especialista da Embrapa Cerrados em fruticultura e que também marcou presença na visita técnica, o sistema de produção para a uva nas condições do Cerrado vem sendo aprimorado e isso envolve um esforço grande dos produtores. “A gente aprende muito com eles e essa troca de conhecimento é primordial”, afirmou. Segundo ele, o sistema utilizado na região é uma adaptação do usado em Petrolina (PE), Jales (SP) e Pirapora (MG). “Só que nessa região em que estamos clima e solo são diferentes e é necessário ajustar as técnicas de cultivo”, explica Junqueira.
O pesquisador Nilton Junqueira destacou ainda a qualidade do produto que vem sendo produzido no Cerrado. Segundo ele um dos fatores que favorecem esse resultado é a amplitude térmica da região (diferença entre a temperatura máxima e mínima registradas em um mesmo local). “Aqui se produz um fruto de qualidade, doce e ácido ao mesmo tempo”. Para o especialista, é importante, no entanto, que haja nas propriedades diversificação de cultivos, para que consigam produzir frutos o ano todo. Na fazenda Monte Branco, além de uva, eles também produzem maracujá. “Isso é muito importante, tanto para garantir renda para o produtor, quanto para geração de emprego”, enfatiza Junqueira.